Voluntariado e política: como unir dois lados da mesma moeda
Manifestação contra a corrupção, em Brasília.
Crédito: MBCC
“Eu me envolvo nas causas nas quais acredito e que me parecem justas. Todo cuidado é pouco pra evitar ser usado como ‘massa de manobra’, mas, daí em diante, é fazer com que a mensagem seja espalhada ao maior número possível de pessoas. Tudo tão simples e rápido quanto postar uma mensagem no twitter ou no facebook”. Assim o revisor carioca Fausto Rêgo resume seu ativismo político.
Atento aos problemas de sua cidade e do Brasil, e sempre disposto a ajudar ganhando apenas a melhoria do bem estar geral, Fausto faz parte de um grupo de pessoas cada vez mais numeroso no país: os ativistas políticos voluntários. São cidadãos que querem mudar leis e regras da sociedade, mas não se envolvem na política partidária. Como fazer isso, porém, se a mudança acontece por meios tradicionais, como debates nas câmaras municipais e estaduais? A resposta, em geral, começa pela internet.
Ativistas nas redes
“Nos últimos anos, tenho participado voluntariamente de alguns movimentos, muitos deles nascidos das redes sociais ou encabeçados por organizações que trabalham com ciberativismo”, diz Fausto. De acordo com uma recente pesquisa do Ibope sobre voluntariado no Brasil, 62% dos voluntários brasileiros têm acesso à internet e a utilizam para suas tarefas sociais.
Voluntários do movimento
Meu Rio, em protesto
A partir da troca de mensagens e da leitura de textos, os ativistas voluntários começam debates sobre possíveis mobilizações e formas de pressão para atingir seus objetivos. Um exemplo de discussão que saiu das telas de computador e acabou na câmara dos deputados é o projeto Meu Rio, que se define como um “movimento democrático e apartidário que usa ferramentas online para conectar os cidadãos do Rio de Janeiro e garantir que sua voz oriente os processos de decisão que estão transformando a cidade”. Os integrantes pressionaram os vereadores cariocas por meio de petições (eletrônicas e de papel) e manifestações na câmara e conseguiram fazer com que a Lei da Ficha Limpa fosse aprovada. Agora, candidatos condenados na Justiça não podem se candidatar a cargos públicos no município.
Da rede para as ruas
Outro exemplo de participação política são as passeatas organizadas pelo Movimento Brasil Contra a Corrupção, que reuniram 60 mil pessoas em Brasília, em setembro e outubro de 2011. Também desvinculado de partidos, o movimento quer chamar a atenção para os desvios de condutas de parlamentares e demais servidores públicos em todo o país. Seus organizadores salientam que o movimento, criado em agosto do ano passado, nasceu do desejo de “viver e conviver em um país melhor e mais justo para seus cidadãos”. O grupo hoje conta com cerca de 50 pessoas, que buscam organizar novas manifestações e petições para serem apresentadas a parlamentares.
“Acho interessante levar as manifestações para assembléias legislativas ou câmara de deputados, para ‘jogar na cara’ de quem de direito”, afirma Maria Matar, coordenadora de projetos que participou do movimento contra a corrupção.
Advocacy
A força dessas atividades, dizem alguns estudos, pode sair do trabalho voluntário, por meio de ações de advocacy. O termo é difícil de ser traduzido e significa o conjunto de ações feitas para que aconteça uma mudança política. “O voluntariado promove a mudança social não somente por influenciar processos políticos, como o estabelecimento de agendas, a formulação de políticas e a representação, mas também porque é capaz de mudar as relações entre pessoas oriundas de áreas diferentes da sociedade”, afirma um relatório produzido pela rede de voluntariado Civicus a partir de entrevista com líderes de organizações sociais de todo o mundo.
Segundo o documento, muitas vezes o trabalho voluntário é o primeiro passo para o envolvimento político e por isso deve ser estimulado. Ao mesmo tempo, acredita que não deve haver preconceitos, por parte dos voluntários, em relação a atividades políticas e sociais, pois, no fim das contas, dependem de si para que haja mudança real. “As comunidades de voluntários e ativistas são ao mesmo tempo a mesma comunidade e também comunidades que precisam uma da outra”, encerra o presidente da Civicus, David Bonbright.