Cabelo é felicidade

Cores, volumes, comprimento, arcos, lenços, cremes, shampoos. O cuidado das mulheres com o cabelo parece não ter fim. Uma das partes do corpo mais valorizadas por elas, infelizmente, é bastante prejudicada por tratamentos contra doenças como o câncer. A quimio e a radioterapia são duras com todo o corpo, mas seus efeitos ficam muito visíveis quando atingem esse objeto de vaidade.

Algumas pacientes são diretamente afetadas pela queda de cabelos. Já abaladas pela doença, deixam de se reconhecer no espelho, perdem um forte fator de identificação e, consequentemente, têm a autoestima reduzida, o que pode gerar até mesmo problemas familiares.

Foi vendo casos assim na mídia que a Analista de Sistemas e Negócios Sênior da Capgemini Silvia Vezicato, de 35 anos, decidiu se mobilizar e fazer o possível para minimizar o problema. “Nunca tive caso de câncer na família nem em amigos próximos”, diz. “Mesmo assim, decidi ajudar”.

A analista de sistemas e negócios Silvia Vezicato antes e depois da doação de cabelos. Após essa primeira atividade, ela fundou uma ONG para ajudar pessoas com câncer

Há quase três anos, ela doou o próprio cabelo para uma organização fazer perucas e desde então se dedica a divulgar a causa. Tanto que criou uma ONG, a Cabelicidade, que não apenas conscientiza sobre causas do câncer e tratamentos da doença como promove campanhas de doação de cabelo e outros itens que podem ajudar a melhorar a vida dos pacientes.

“Mulheres e crianças melhoram significativamente quando passam a usar perucas. Porém, é um acessório extremamente caro”, conta. Uma peruca custa de R$250 a R$4500, dependendo do tipo de fio (sintético ou natural) e do comprimento. “Ou seja, pacientes que não possuem recursos podem perder a chance de uma melhora efetiva. Daí surgiu a ideia de doar meus cabelos para o Instituto Dr. Arnaldo”.

O Instituto Arnaldo Vieira de Carvalho, também conhecido como Dr. Arnaldo, é ligado à Santa Casa de São Paulo, e referência no diagnóstico e tratamento de câncer na capital paulista. Silvia conheceu a organização por intermédio do marido, que trabalhou por 15 anos na Santa Casa.

Quando cortou os cabelos, em maio de 2012, muita gente perguntou por quê. A resposta chamava a atenção e mais gente se juntava à causa. “Muitas amigas e até homens doaram”, lembra.

Silvia (ao centro) entrega doação ao Instituto Dr. Arnaldo.

As doações precisam ter ao menos dez centímetros de comprimento (quanto mais, melhor). Cor e tipo de cabelo são indiferentes, mas os fios devem ser presos secos em um elástico ou amarrados em tranças.

Empolgada, criou a Cabelecidade em setembro 2014. Hoje, ela atualiza a página da ONG com a ajuda de um publicitário voluntário. As doações são enviadas para o Instituto Dr. Arnaldo, que, por sua vez, as cede a outra entidade, a Fundação Laço Rosa. Esta possui uma rede de cabelereiros e peruqueiros voluntários que montam, cortam e até pintam o acessório de acordo com fotos enviadas pelos pacientes. A ideia é manter o visual antigo ou, em alguns casos, transformá-lo. O que importa é a felicidade. A ONG mantém uma fila nacional de doação, como a de órgãos.

O material pronto é enviado em uma caixa personalizada, que conta ainda com brindes como kit de maquiagem e lenços. “Fazemos um mimo para a pessoa se sentir valorizada e ter mais força para enfrentar o tratamento”, diz Patrícia Bullé, gerente da Laço Rosa. “É como se fosse um remédio”.

Silvia (esq.) com diversas doações no Instituto Dr. Arnaldo, no Dia Internacional do Voluntariado (5 de dezembro)

Para aumentar a arrecadação, Silvia conta com parcerias. São pessoas e entidades que a procuram e a convidam para promover eventos, como bazares e campanhas educacionais, como a realizada pelo Centro Universitário Internacional (Uninter). Nessas horas, além de cabelos, vale também doação de lenços, cadeiras de roda, roupas.... Enfim, qualquer item que ajude a melhorar o bem-estar do paciente.

Sempre em busca de mais doações, a analista de negócios criou, no fim do ano passado, uma campanha no Portal de Voluntários Bradesco. “Por ser uma empresa tão grande, imaginei que muitas mulheres (e homens) poderiam aderir à causa”, diz.

Doação de cabelos como fazer

O corte deve ter ao menos 10 cm de comprimento (cerca de um palmo).

Cabelos repicados ou com corte em V precisam ter ao menos 15 cm

Qualquer tipo de cabelo pode ser doado, mesmo que tenha química ou tingimento

Após o corte, amarre o cabelo com elásticos nas duas pontas ou faça uma trança, que também deve ser amarrada

O cabelo deve ser enviado completamente seco, pois pode estragar se estiver molhado ou úmido.

Veja para quem enviar em www.cabelicidade.com.br