Voto responsável



As eleições estão aí. É mais do que hora de refletir e decidir para quem vai seu voto. E não há melhor forma de acabar com a dúvida do que buscar informações sobre a trajetória dos candidatos. Entre os grupos que trabalham neste sentido, ajudando os cidadãos a se esclarecerem, está a ONG Transparência Brasil, instituição fundada em abril de 2000 por indivíduos e organizações não-governamentais.

Buscando combater a corrupção, a Transparência alerta para o quadro sócio-político no qual o Brasil se encontra. Com quase 200 milhões de pessoas, nosso país é o maior da América Latina e um dos maiores do mundo. Seu PIB corresponde à metade de toda a América Latina e o Caribe, exceto o México. Contudo, sua numerosa

população o coloca em posição pouco privilegiada no que tange o PIB per capita. Nosso

índice de Gini (que mede o grau de desigualdade na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar percapita) é um dos piores: os 20% situados no topo da pirâmide de renda são responsáveis por mais de 60% do consumo total, ao passo que os 20% inferiores consomem apenas 2,5%, segundo dados da Transparência.

Para que seu objetivo seja cumprido, a entidade priorizaarealização de levantamentos empíricos sobre a incidência da corrupção em diferentes esferas. O monitoramento é realizado por meio de ferramentas de Internet, que estão disponíveis em páginas como Às Claras (banco de dados com informações e análises sobre o financiamento eleitoral) e Deu no Jornal (atualizado diariamente, com noticiário publicado em 63 jornais e revistas de todo o país, sobre sobre corrupção e controle). Já a página do projeto Excelências mostra perfis de candidatos à Câmara dos Deputados em 2006, oferecendo a busca por estado, partido ou candidato.

Com a campanha pelo Voto Consciente, a ONG Transparência visa a dar ênfase à importância de se ter plena consciência na hora de apertar o “confirma”. Uma vez que a maioria da população não pesquisa o passado dos candidatos, freqüentemente, são reeleitos políticos corruptos. Considerando que “a corrupção custa caro para o país e muito mais caro para nossa gente”, a Transparência Brasil aposta também em cartilhas.

Opções para se informar, não faltam. Critérios para realizar uma avaliação criteriosa são encontrados no Guia do Voto Responsável, disponível para download .

O site do Tribunal Superior Eleitoral apresenta pesquisas eleitorais, dados sobre gastos com as campanhas e a relação de todos os candidatos que disputam as eleições 2006. No Wiki Política, o colunista da revista Época Ricardo Neves dá 10 dicas de como votar conscientemente. E, se quiser, o eleitor pode, ainda, falar com os candidatos a presidente, governador e senador, além de conferir outras perguntas e respostas.

A ONG Natal Voluntários preparou 10 mil cartilhas com aspectos que o cidadão deve prestar atenção nos políticos:

o envolvimento em escândalos de corrupção, promessas não cumpridas, respeito ao eleitor, mau uso dos recursos públicos, falsidade, respeito pelas leis e pelo processo democrático, respeito aos direitos dos cidadãos, respeito às instituições, populismo (incluindo assistencialismo e clientelismo) e má gestão da máquina pública.

Enquanto muitos pensam em quem votar, outros defendem o voto nulo,

como forma de protesto. De acordo com a cientista política Alessandra Aldé, “a campanha pelo voto nulo surge entre as pessoas mais bem informadas, formadoras de opinião, que estão acompanhando o noticiário com mais atenção, sentindo-se traídas e decepcionadas pela crise ética”. Embora reconheça a boa intenção do movimento, em termos de protesto, o deputado Fernando Gabeira acredita que políticos que dependem de opinião pública serão prejudicados. Na opinião dele, os que se baseiam em esquemas financeiros, estruturas fisiológicas e clientelistas conseguem sobreviver. “Votar nulo é entregar o ouro ao bandido”, afirma.

O jornalista do Transparência Marcelo Soares declara: “Quanto maior a quantidade de votos brancos e nulos, mais peso têm os votos válidos. Assim, quando a gente vota nulo por não querer votar nos favoritos, na verdade o que acontece é que os percentuais deles acabam engordando. Sempre vai haver quem vote nos candidatos que você não gostaria que sejam eleitos, seja pela popularidade ou por outros expedientes. O negócio é se informar muito bem e escolher bem”. Até 1º de outubro, ainda há tempo.