Empreendedorismo social: saiba mais e confira dicas e iniciativas inspiradoras

Há alguns anos, um novo tipo de empreendedorismo vem ganhando cada vez mais espaço: o empreendedorismo social. Nesse tipo de negócio, o "core", ou melhor, a "alma do negócio", é a responsabilidade social. Basicamente são negócios autossuficientes financeiramente e lucrativos, como qualquer outra empresa, mas que surgem para resolver um determinado problema social através da venda de seus produtos e/ou serviços.

Existem diferentes tipos de negócios sociais. Muhammad Yunus, por exemplo, um dos maiores empreendedores sociais do mundo e fundador de uma das maiores aceleradores desse tipo de negócio, defende que os negócios sociais dão lucro, mas esse lucro não deve ser dividido entre os acionistas e/ou funcionários da empresa. Nesse caso, só é um negócio social se o lucro for inteiramente reinvestido na própria empresa, a fim de melhorar sua entrega e ampliar seu alcance. Já outras linhas, como a da Artemisia, que fomenta e apoia negócios sociais pelo Brasil, não considera que empresas que distribuem lucro entre acionistas e funcionários deixam de ser, por isso, um negócio social. Inclusive, o slogan da Artemisia é: "entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, fique com os dois".

Fato é que independentemente da corrente, o empreendedorismo social vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil e no mundo, transformando assim, realidades locais e nacionais. Todos os dias novas ideias de negócios sociais surgem e se consolidam como empresas com o propósito de resolver problemas sociais. Abaixo, te damos alguns exemplos, sendo esses os vencedores das últimas edições do Prêmio Empreendedor Social da Folha de São Paulo que todos os anos reconhece iniciativas brasileiras:

1. Livox - app de comunicação para pessoas com deficiência

Criado por Carlos Prereira, 38 anos, o Livox é um aplicativo de comunicação alternativa para tablets e smartphones, que permite pessoas com deficiência se comunicarem e se alfabetizarem. A empresa nasceu a partir de uma necessidade do empreendedor, cuja filha teve paralisia cerebral devido a um erro médico no parto e não se comunica oralmente. O aplicativo desenvolvido por Carlos Pereira hoje é comercializado para pessoas físicas pela Apple Store e pelo Google Play, além de ter sido realizada a primeira grande venda pública de 5.000 licenças para a Prefeitura do Recife. A missão da empresa é buscar soluções tecnológicas que contribuam para a inclusão social de pessoas com e sem deficiência. Como tecnologia nacional, o Livox já ganhou prêmios internacionais como o World Summit Award Mobile (ONU, 2015) na categoria melhor aplicativo de inclusão social do mundo, chancela importante para essa inovação brasileira. A empresa encontra-se em fase de expansão comercial, estabelecendo parceria de vendas e distribuição com as Apaes, articulando novas vendas públicas e preparando a entrada no mercado árabe.

2. Retalhar - reaproveitamento de uniformes de empresas

Iniciativa dos amigos paulistanos Jonas Lessa, 25 anos, e Lucas Corvacho, 28 anos, a Retalhar oferece aos clientes o serviço de descarte correto de resíduos têxteis. A empresa recolhe uniformes de empresas que seriam incinerados ou aterrados e os usa para o desfibramento e reutilização dos fios em novos produtos. Ao propor diminuir a pegada de carbono de sua clientela, o negócio social também contribui para a inserção de populações excluídas na cadeia têxtil - em especial cooperativas de costureiras da periferia de São Paulo. Seja ao reaproveitar os uniformes, com segurança às marcas, seja ao transformá-los, a Retalhar já conseguiu evitar que cerca de 15,7 toneladas de tecido fossem aterradas e incineradas. Isso representa economia na emissão de 231,2 toneladas de carbono, o que corresponde ao replantio de cerca de 200 mil mudas de árvores e quase 118 m³ de volume de aterro poupado. Além disso, gerou renda de R$ 85 mil aos parceiros e permitiu a distribuição de mantas térmicas, feitas a partir do reaproveitamento de uniformes, a milhares de pessoas em situação de rua.

3. Vivenda - reformas habitacionais para pessoas de baixa renda

Criado pelo paulistano Fernando Assad, 32 anos, o Programa Vivenda tem como missão contribuir com a melhoria da saúde e da qualidade de vida da população de baixa renda, por meio da realização de reformas habitacionais. Como visão, trabalha para ser o maior e melhor programa de melhorias habitacionais para baixa renda do país. Oferece uma solução integral ao propor um único pacote que inclui crédito, assistência técnica, materiais e mão de obra qualificada (recrutada na própria região de atuação). Ao realizar obras de baixa complexidade e alto impacto social, busca reduzir o déficit habitacional qualitativo, ou seja, a inadequação de moradias, que compreende hoje cerca de 11 milhões de moradias no Brasil. Ao fazer isso, complementa com maior potencial de escala programas tradicionais de moradia popular, cujo foco costuma ser a construção de casas novas. Com o lema de oferecer reforma de baixo custo e alto impacto, o Programa Vivenda já realizou quase 500 reformas nas favelas de São Paulo.

Dicas para colocar sua ideia em prática

Você tem uma ideia bacana de negócio que acredita poder contribuir para resolver um problema social, mas não sabe por onde começar? Abaixo compilamos algumas dicas da Endeavor, uma das maiores fomentadores e aceleradores do empreendedorismo no Brasil.

  • Comece identificando um problema social: sabe a "dor do cliente"? Então, para um empreendedor social, a dor do seu cliente é um problema social. A Geo Energética, por exemplo, um negócio social, trabalha com a questão dos resíduos sólidos e da geração de energia. Sim, o acúmulo de lixo é um problema social, assim como a geração de energia. Você pode desenvolver um negócio para qualquer “dor” que achar relevante, não importa o campo: alimentação, educação, mobilidade urbana, moradia, acesso a crédito, enfim, problema social é o que, infelizmente, não falta no mundo.

  • Faça uma imersão total no seu público alvo: se o seu negócio vai resolver um problema social, então você precisa entender a fundo esse problema. Não adianta querer resolver a questão da violência na comunidade X se você nunca foi lá. Ou então criar algo para melhorar o atendimento médico à pacientes de baixa renda – como é a proposta do Dr Consulta, por exemplo – se você nunca foi a um hospital público ou conhece verdadeiramente a demanda do seu público alvo. Nesse campo, o Design Thinking pode te apresentar ferramentas poderosas para mergulhar nesse novo contexto e trazer insights à tona.

  • Tenha um projeto claro e definido: use a metodologia Canvas para montar o seu modelo de negócios. Como qualquer outro negócio, para empreender no campo social, você também precisará definir um plano de marketing, uma proposta de valor e sua estrutura de custos. Além disso, como você estará se propondo a resolver problemas sociais, precisará definir indicadores para medir o impacto do seu negócio.

  • Crie junto: você está se propondo a resolver o problema de alguém, certo? Então, que tal perguntar para essa pessoa como ela se sente em relação a esse problema e à sua solução proposta? Isso parece óbvio, mas muitos negócios não dão certo por esse motivo: o produto não resolve a dor do cliente, não é um produto desejável. Quando estamos falando de problemas sociais, a complexidade vai lá para cima. Então, que tal envolver os beneficiários do seu negócio nesse processo de validação do modelo de negócio? Apresente seus projetos e os convide para fazer parte da co-criação. Eles devem ser vistos como as grandes fontes de informação e devem ser parte inerente das ações que estarão em andamento.

Crowdfunding

Uma vez que você seguiu as dicas acima e tem seu plano de negócio social pronto e estruturado, é preciso captar o investimento inicial para fazer o negócio rodar. Uma boa dica pode ser abrir um crowdfunding. Nada mais é do que um financiamento coletivo. Ele pode te ajudar a trazer o dinheiro necessário, além de gerar banco de dados dos apoiadores e marketing digital gratuito. Você conta a sua ideia (pode usar texto, vídeo, fotos, etc) e as pessoas que gostarem podem fazer contribuições em dinheiro de diferentes valores. Dependendo da plataforma escolhida, você ainda pode oferecer recompensas para os apoiadores segundo o montante dado. No Brasil já são inúmeras plataformas online que permitem esse tipo de campanha. Clique aqui e vejas quais são, além das particularidades de cada uma, e escolha a que mais se adequa ao seu objetivo.